Carlos Eduardo Romão (Duh Romão)
Refletindo sobre aquilo que podemos apreender com a leitura de um método voltado para o ensino e
a aprendizagem de um instrumento musical, a presente dissertação propõe uma apreciação comentada
do volume publicado por Henrique Souza, em 1984, intitulado Antologia do cavaquinho – Método Popular
com encadeamentos e cifragens. O trabalho está estruturado em quatro momentos. O primeiro, chamado
Ndônda, como um ponto de partida, situa o propósito e o âmbito da pesquisa, apresenta o objeto de
estudo e o enfoque adotado. Em seguida, o momento chamado Ngóngo, pois remete ao modo de viver,
traz uma narrativa biográfica sobre esse autor, um artista popular, violonista, cavaquinista, cantor,
compositor, humorista, radialista e professor de música também conhecido como Pechincha. Tal
narrativa procura articular informações sobre Henrique Souza e seu mundo, sobre as pessoas com as
quais conviveu e trabalhou e sobre o contexto em que escreveu e editou seu método. Para tanto, a
investigação lidou com dados arquivísticos, memorialísticos e bibliográficos considerando que
circunstâncias socioculturais, históricas, comerciais e políticas não se separam totalmente das
especificidades técnicas e musicais que podemos encontrar nas páginas de volumes didáticos como o
que aqui se aprecia. O próximo momento, chamado Úbangelu, pois diz respeito ao modo de executar
algo, dedica-se ao método publicado por Henrique Souza notando que a leitura do volume requer
atenção à diferentes formas de escrita: texto em língua portuguesa, cifras, partituras e, principalmente,
diagramas. Com isso, abordam-se conotações associadas ao cavaquinho, os recursos empregados, o
repertório recomendado e o conteúdo efetivamente tratado no Antologia do cavaquinho. Nesse exame,
destacam-se assuntos de teoria musical, tais como a montagem de acordes e as diretrizes para o
encadeamento das vozes desses acordes, as progressões harmônicas e as funções tonais e, na apreciação
de uma composição do próprio Pechincha, aspectos das relações entre a fraseologia musical de tradição
clássica centro-europeia e o repertório popular produzido no Brasil. Por fim, no momento chamado
Kizubilu, conclui-se que a ponderação sobre tais assuntos musicais, suas cifras e formas de escrita, pode
contribuir para a compreensão de conflitos e negociações que marcam a trajetória das pessoas negras
que, como Pechincha, buscam nas práticas musicais um meio de levar a vida.