Carlos Eduardo Romão (Duh Romão)
Em práticas de ensino e aprendizagem musical em que o cavaquinho está presente, cedo ou tarde, surgem questões que culturalmente estão enraizadas no imaginário social. Assim, interessados pela vida e obra de cavaquinistas que inspiraram a trajetória dessa arte em nosso país, percebe-se que certos personagens são lembrados, enquanto que outros são invizibilizados e esquecidos. Como pensar essa desigualdade? Essas memórias e esquecimentos se relacionam aos temas da etnicidade, da religiosidade, da história social, da economia e da geopolítica? Posta essa desigualdade, como o instrumento chegou ao Brasil e se abrasileirou? Por que o cavaquinho se tornou um símbolo nacional? Um instrumento europeu acabou ressoando africanidades brasileiras? Como tocar cavaquinho sem tocar nesses assuntos? É possível inserir samba e choro no ambiente escolar sem saudar personagens negros reconhecendo-os como parte substancial dessa trama? O professor cavaquinista pode motivar estudantes a reconhecer sua própria história? O professor de música pode abordar o tema da diversidade cultural através dos sons do cavaquinho? Entrelaçando e procurando respostas para questões assim, apresenta-se aqui um exercício de pesquisa exploratória que concilia revisão bibliográfica e fontes diversas. O primeiro capítulo delineia uma contextualização de cunho histórico partindo da quase simultaneidade de dois fenômenos: a diáspora negra e a chegada do cavaquinho em território brasileiro. Segue-se até meados do século XX quando, em mãos de ébano, as interações socioculturais do cavaquinista se destacam. O segundo capítulo fala sobre processos da educação do negro no Brasil observando a formação dos cavaquinistas em espaços de educação formal, não formal e informal. O terceiro capítulo fala de três homens negros que, confundindo os biombos entre música e sociedade, participam da consolidação de uma dicção afro-brasileira nesse instrumento, são eles: José Luis de Moraes, o Caninha (1883-1961), Nelson Alves (1895-1960) e Heitor dos Prazeres (1898-1966). Por fim, observa-se que essa temática pode se tornar matéria de sala de aula, ou seja, constituir objeto de conhecimento, conteúdo para atividades e materiais de ensino que, de maneira versátil e interdisciplinar, contemplem a “história e cultura afro-brasileira” em processos de educação musical.